De repente de tudo se faz festa
Panetone e cobertor de mendigo decoram o Arouche.
E a sociedade aceitável caminhando, cega,
desviando de seu percurso para não pisar no chão mijado de angústias e cachaça.
O cara sem oportunidade continua o mesmo,
agora está lá pintado de vermelho, branco, barrigudo,
dando de presente o único cigarro que tem pro seu filho de oito anos.
E Feliz Natal, a época mais bonita do ano!
Peru, chester, tender, chester tender e o que mais vão inventar para cobrar caro no supermercado.
Enquanto o pernil está quase pronto no forno, aquele cara talvez consiga dar um espetinho de gato pro filho comer.
E vai falar 'Feliz Natal, muleque!'
Os dois de bermuda e chinelo velhos, no meio da rua e do frio do Natal.
Depois não tem ninguém na rua e o muleque acha até graça da cidade fantasma,
mas até eles tem que ir pra casa.
Quem tá na rua a essa hora não é gente de bem,
é ladrão, drogado, prostituta, gente perigosa
que também não tem motivo pra ver o Natal como dia santo.
E ali na casinha por onde eles passam, toda a galera reunida, comendo como se amanhã não existisse e bebendo até gargalhar mais alto.
Todos estão ocupados demais com a gula, e o pior é que é o mundo inteiro.
Depois, no outro dia, tudo fechado. Ninguém nem ousa sair, é como se fosse uma hibernação em massa.
O muleque tá lá com o pai no mesmo lugar. Na cidade fantasma não tem movimento.
Aí ele avista um bando de caminhões chegando pelo acesso á sua comunidade.
''Mas que droga, são só os caminhões de lixo pra depositar o entulho de Natal.''
E nessa hora o pai coloca a mão em seus ombros e diz:
''Isso é lixo, mas mesmo assim é o presente de Deus, meu filho. Porque no meio da sujeira deve sobrar algum presentinho que dê pra uso!''
Sorrisos
e
Feliz Natal Mundo!
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