Eu sou a artista.
Jogo as cores, desenho linhas, misturo nuances.
Estas paredes estão tatuadas com os diversos olhares e sorrisos,
e não sei o que fazer com tantos riscos que esboçam o meu apartamento.
É tudo novo, a primavera chega apagando com sua beleza e suavidade todas as outras estações que já se passaram pela minha janela.
Desejo-a inteira, completa, bela. Mas só para mim.
Me invade um medo de que ela vá embora, e volte o calor insuportável do verão sem flores,
Que tento fotografá-la para não esquecer de sua beleza. Assim ela sempre estará alí.
Mais fácil seria desenhá-la em minhas paredes e poder vê-la sempre que despertar.
Eu sou a artista.
Quero encontrar cores para poder reproduzí-la do modo mais bonito.
Traçar as sombras como se o sol escolhesse o ângulo perfeito para minha visão.
Contornar sua forma, entender seu significado.
É primavera. E ela brilha do lado de fora de minha janela.
Em meu quarto o brilho é do sorriso de menina, do olhar de mulher.
Da ausência de palavras, olhos fechados, lábios prontos para se acomodarem aos meus, sua nova morada.
As mãos entrelaçadas em algo novo que nasce.
É a primavera e os caminhos floridos, cheios de ipês roxos e sorrisos.
Cheios de risos, lágrimas, raios intensos, nevoeiros, devaneios.
Neste caminho eu rumo, por entre as árvores e flores da primavera.
Eu e a primavera, a primavera e eu. E só.
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