Minha história começa com alguém que afundou nos mares gélidos da costa austríaca.
Foi uma garota moradora das montanhas, criada nos vilarejos interioranos formados por conventos, agrupamentos humildes de camponeses e casas luxuosas do outro lado do lago. Os campos encarpetados de edelweiss, o céu sempre azul, a música do vento a bater nas imponentes rochas altas e cobertas de neve ao topo.
Ela adorava aquelas montanhas, as conhecia como se fossem parte de seu ser. A brisa das cordilheiras tocava seus cabelos louros e fazia voar-lhe pétalas amarelas de rosa. E o lago.. Ah, como ela apreciava aquele lago. Pena ser tão congelante para sua pele. A água tão clara quanto teus olhos, tão apressada e rica em carpas que pulavam insistentemente por cima das pedras, formando um borrão avermelhado em meio ao azul e ao brilho do sol. Pena os ursos não acharem a água tão fria assim.
Cresceu cantando pelos campos, colhendo maçãs nas propriedades vizinhas, cresceu com os pés no chão.
Mas como toda menina tem seus sonhos, esta de minha história também tinha.
Ficava por horas sentada no telhado de sua casa. Esperava o sol se por por detrás da propriedade dos Orestein, abria a vidraça do sóton e, num salto, pisava na terceira telha, a única que ainda era segura. Sentava-se em cima de um lenço, o qual já havia escondido embaixo da pilha de tijolos que tremiam com o vento.
Aquela vista era esplendorosa, mas ainda não existia a máquina fotográfica em 1897. O céu negro se mesclava com o mar, o reflexo da lua e das nuvens claras podia iluminar as sombras de seu rosto num sorriso.
Aquele era o ponto de encontro do Lago das Carpas com o mar. Águas rochosas e atormentadas, rápidas.
Era uma visão grande e assustadora. Mas o que interessava a ela não era a junção da natureza calma com a natureza rude, e sim a outra margem, aonde as águas bravas ainda não alcançavam.
Era a margem mais para o leste da rebentação, aonde repousava uma velha e grandiosa mansão, tratava-se da propriedade dos Stapes, uma família rica do dinheiro e da falta de compaixão.
Atrás da casa haviam construções até quase o topo da montanha central, muitos empregados, o senhor Stape, homem forte e grosseiro, a senhora Stape, mulher doente e com medo de viver, e a jovem Lisa.
Gretzel sentava-se e só conseguia ouvir o som das águas, os olhos atentos à outra margem. Na residência dos Stapes somente uma, das mais de cinquenta janelas, estava iluminada. E era nela que seus olhos repousavam.
Como num piscar de olhos tudo se apagou e a sinfonia marinha ecoou em seus ouvidos. Gretzel afastou um dos tijolos com a perna direita e debaixo dele retirou uma pequena lanterna de pilha. Apontou para o local onde presupunha ser a direção certa.
Liga, desliga. A luz emitida pela lanterna fez uma parte do lago brilhar com o frágil facho de luz. Passaram-se uns dois minutos, Gretzel aguardava com o olhar impaciente e fixo.
Eis que uma tímida luz brilha, vinda da margem oposta. Era Lisa.
A luz formava círculos, retas, triângulos, todas as formas imagináveis. Ficavam assim boa parte da noite, até a maré subir e cobrir o pequeno cais da fazenda dos Stapes.
Era quando Lisa desenhava no ar um coração, fechava a janela e adormecia.
Para Gretzel nunca era o bastante, ela ainda passava horas desenhando no ar formas para tentar expressar o seu amor e, por vezes, adormecia e despertava com os primeiros raios da manhã.
- Oh, Lago das Carpas, como podes separar tal inocente e bonito amor com tuas águas congeladas?
Durante o dia ela escrevia poemas, frases e pensamentos, todos baseados em Lisa, colocava-os em barquinhos de papel e soltava-os no lago. Nunca soube se eles chegaram, não podia-se ter um diálogo muito complexo por luzes.
Mas, com o tempo, ambas acabaram criando um código que facilitava a conversa. Escreviam palavra por palavra, desenhavam, riam e choravam.. como quando, depois de muito esforço, Gretzel entendeu que Lisa estava escrevendo: ''Eu te amo''.
Lisa destinava suas tardes para trabalhos acadêmicos, seus pais desejavam que fosse para a capital estudar veterinária e como era desejo de sua desfalecida mãe, ela aceitava sem meias palavras.
As duas criaram uma verdadeira ponte imaginária que ligava as almas e os corações durante a noite, e, de dia, durante a colheita, Gretzel só pensava em Lisa, e esta, via a luz da lanterna de Gretzel por detrás das letras dos livros.
Nunca se viram, viajar por aquela região de águas poderia ser uma aventura sem volta. Na distância só podiam enxergar uma silhueta pequena e magra. Lisa sempre com vestidos coloridos, os cabelos negros e compridos. Gretzel com alguma camisa branca, herança de seu irmão, uma bermuda marrom e cabelos louros desarrumados.
Os dias sem Lisa começaram a ser muitos, e muito exaustivos.
Certo dia, Gretzel chegou em casa depois de uma tarde desgastante de colheita sob o sol. Seu irmão Rupert, um homem louro e forte, do tamanho de dois homens, chorava abraçado a um senhor com os mesmos cabelos, porém mais ralos. As lágrimas caíam desesperadamente de seu rosto, as quais foram acompanhadas pelas de Gretzel, ao entender que perdera o pai.
Naquela noite Lisa esperou, esperou paciente e insistentemente, esperou até que a maré alcançasse o cais. E ela esperou.. até cair de sono no parepeito de sua janela de mármore branco.
A recuperação de Gretzel foi breve, ela se dedicou totalmente ao trabalho. De manhã ordenhava as vacas do pasto, `a tarde ia para a colheita e antes de voltar para casa vigiava as ovelhas.
O desejo de estar ao lado de Lisa, um encontro de uma vez por todas, sufocava a garganta como veneno. Agora as noites eram banhadas por luzes ágeis com a prática das conversas de dois anos pelo lago.
Passou-se mais um mês, Gretzel sentada em seu lenço, coberta por uma névoa, a umidade molhando seus lábios como um beijo de sua amada. Brilhou fraca uma luz à outra margem. Os olhos não queriam acreditar em tal mensagem. Dizia que Lisa fora aprovada para estudar na capital e partiria em duas semanas.
Foi somente isso, não veio mais nada.. nem palavras de afeto ou de consolo, ou raiva e alegria.. e a maré ainda nem chegara ao cais.
Naquela noite Gretzel correu pelos campos de edelweiss, correu até perder o fôlego que já não tinha, e nas montanhas ela se escondeu por uma semana.
Passava os dias a observar o céu e as águas, durante a noite, chorava. Dormia afogada em suas lágrimas e pensamentos em Lisa.
Passaram-se os dias e ela apareceu com a magreza à flor da pele, a cor pálida, roupas sujas.
O semblante mais triste que as montanhas austríacas já haviam visto, mas com os olhos determinados.
Era noite de lua cheia, rumou para o teu canto ao telhado e piscou com a lanterna. Imediatamente vários flashes, frases angustiadas, luzes deliciaram teus olhos. Lisa pensara que estivesse morta, chorara por dias, mas agora, como no primeiro dia em que conversaram, riam e se amavam como nunca.
Os dias na floresta renderam planos audaciosos a Gretzel, que resolveu por em prática o sonho de ir até sua amada. Enquanto voltava das montanhas ela passara por um vilarejo aonde um senhor de olhos esverdeados chamou-lhe a atenção. Ele estava sentado à beira do lago cantarolando algo semelhante a Distillers da antiga geração. Ao seu lado flutuava um pequeno barco, provavelmente usado no passado para a pesca. O velhote viu a expressão entregue de Gretzel e perguntou-lhe se ainda lhe restavam sonhos. Disse-lhe, então, que fosse atrás da luz que a guiava e ofereceu seu barco contanto que devolvesse na noite posterior quando voltasse com sua amada para a margem.
Lisa engoliu as frases cheias de novidades como se fossem doces, deliciou-se com elas e com a idéia de ter a bela e querida Gretzel em seus braços. A tal noite esperada seria na próxima lua límpida.
O dia arrastou-se. Nem a brisa aliviadora do vento mostrou as caras. O barco já estava na margem, ancorado no quintal perto dos equipamentos enferrujados da lavoura. Quando o sol começou a ameaçar seu descanso, Gretzel voltou para casa. Arrumou-se como nunca antes fizera.
Foi uma princesa que olhou para o barco, tremendo com a correnteza, pronto para a viagem da realeza para seu reino. Com um sinal de lanterna ela anunciou sua partida e prendeu o lápis da escuridão na proa do pequeno barco, para Lisa saber qual era sua distância.
Gretzel dessamarrou o nó em terra e saltou para dentro da embarcação. Esta vacilava por entre as águas gélidas do Lago das Carpas. Ela começou a remar na direção de sua luz, ao encontro, finalmente, de sua amada!
O ar pesava em seus pulmões com a umidade que entrava, o chão que se movia com rapidez era negro. De vez em quando dava para enxergar o vulto de algum peixe ou animal marinho qualquer, ou sentir as pedras do fundo batendo contra os remos. Gretzel não conseguia tirar os olhos da outra margem, seu maior desejo, ela teria a mulher que mais amava, a razão de sua vida, para sempre!
Sua sede pelo destino era tão grande que ela remava desordenadamente, feito louca, para todos os lados. Os olhos fixos em Lisa.
Metade do lago já ficara para trás, ela conseguia enxergar o cais, os cavalos no pasto e as várias janelas de branco mármore.
Naquela parte da travessia, ligeriamente a oeste, o rio desembocava no mar em águas raivosas. Ela tomava o maior cuidado que podia para não se deixar levar por estas águas quase ficando em exaustão.
Só conseguia pensar em sua vida.. como seriam seus olhos?
Nesse momento de imaginação ela cometeu um descuido, uma pedra do fundo do lago bateu no lado direito do remo e, distraida, deixou que este fosse arremessado para longe do barco.
Nem a névoa pode ofuscar sua visão. Assustada, ela olhou para cima e ali, a uns dez metros de distância, avistou Lisa debruçada no parapeito da janela.
Os olhos claros arregalados, cabelos impecáveis, vestia uma blusa verde, casaco preto e brincos também verdes.
O rio parou, a névoa se dissipou. Entreolharam-se pelo que pareceu ser uma eternidade.
- Eu estou indo para ti, minha amada Lisa!
Lisa sorriu um sorriso apaixonado, mas, no mesmo instante arregalou ainda mais os olhos apontando os dedos para a direita.
Sem remos o barco rumava para a tormenta. Gretzel desipnotizou-se e, em desespero, começou a remar com os braços sem sucesso algum.
Lisa já nao enxergava sua princesa, somente a luz da lanterna se afastando, afastando, até se apagar.
- Onde foras, minha princesa? Será que és me dada por tão poucos segundos e depois tirada de mim? Será isso possível?
Ela vagou até a beira tentando avistar algo, com a esperança de encontrar Gretzel pelos campos correndo para abracá-la. Mas ela não estava lá.
Rumou até a beirada do Lago das Carpas e colocou os pés nas águas gélidas.
- Se foi esta a sensação que sentiras por desejar ver-me, que eu sinta a mesma por carregar na mente teus olhos e no coração teu amor. Nosso amor estás nestas águas e é nele que ficarás.
Lisa caminhou até as águas alcançarem sua cintura. Seus olhos refletiam a dor em busca de algum rastro de sua amada mas em seu rosto havia um sorriso por saber que pela primeira vez podia se sentir mais perto de Gretzel.
Já não sentia mais nada, somente sorria. E assim, o Lago das Carpas continuou seu percurso.
Foi uma garota moradora das montanhas, criada nos vilarejos interioranos formados por conventos, agrupamentos humildes de camponeses e casas luxuosas do outro lado do lago. Os campos encarpetados de edelweiss, o céu sempre azul, a música do vento a bater nas imponentes rochas altas e cobertas de neve ao topo.
Ela adorava aquelas montanhas, as conhecia como se fossem parte de seu ser. A brisa das cordilheiras tocava seus cabelos louros e fazia voar-lhe pétalas amarelas de rosa. E o lago.. Ah, como ela apreciava aquele lago. Pena ser tão congelante para sua pele. A água tão clara quanto teus olhos, tão apressada e rica em carpas que pulavam insistentemente por cima das pedras, formando um borrão avermelhado em meio ao azul e ao brilho do sol. Pena os ursos não acharem a água tão fria assim.
Cresceu cantando pelos campos, colhendo maçãs nas propriedades vizinhas, cresceu com os pés no chão.
Mas como toda menina tem seus sonhos, esta de minha história também tinha.
Ficava por horas sentada no telhado de sua casa. Esperava o sol se por por detrás da propriedade dos Orestein, abria a vidraça do sóton e, num salto, pisava na terceira telha, a única que ainda era segura. Sentava-se em cima de um lenço, o qual já havia escondido embaixo da pilha de tijolos que tremiam com o vento.
Aquela vista era esplendorosa, mas ainda não existia a máquina fotográfica em 1897. O céu negro se mesclava com o mar, o reflexo da lua e das nuvens claras podia iluminar as sombras de seu rosto num sorriso.
Aquele era o ponto de encontro do Lago das Carpas com o mar. Águas rochosas e atormentadas, rápidas.
Era uma visão grande e assustadora. Mas o que interessava a ela não era a junção da natureza calma com a natureza rude, e sim a outra margem, aonde as águas bravas ainda não alcançavam.
Era a margem mais para o leste da rebentação, aonde repousava uma velha e grandiosa mansão, tratava-se da propriedade dos Stapes, uma família rica do dinheiro e da falta de compaixão.
Atrás da casa haviam construções até quase o topo da montanha central, muitos empregados, o senhor Stape, homem forte e grosseiro, a senhora Stape, mulher doente e com medo de viver, e a jovem Lisa.
Gretzel sentava-se e só conseguia ouvir o som das águas, os olhos atentos à outra margem. Na residência dos Stapes somente uma, das mais de cinquenta janelas, estava iluminada. E era nela que seus olhos repousavam.
Como num piscar de olhos tudo se apagou e a sinfonia marinha ecoou em seus ouvidos. Gretzel afastou um dos tijolos com a perna direita e debaixo dele retirou uma pequena lanterna de pilha. Apontou para o local onde presupunha ser a direção certa.
Liga, desliga. A luz emitida pela lanterna fez uma parte do lago brilhar com o frágil facho de luz. Passaram-se uns dois minutos, Gretzel aguardava com o olhar impaciente e fixo.
Eis que uma tímida luz brilha, vinda da margem oposta. Era Lisa.
A luz formava círculos, retas, triângulos, todas as formas imagináveis. Ficavam assim boa parte da noite, até a maré subir e cobrir o pequeno cais da fazenda dos Stapes.
Era quando Lisa desenhava no ar um coração, fechava a janela e adormecia.
Para Gretzel nunca era o bastante, ela ainda passava horas desenhando no ar formas para tentar expressar o seu amor e, por vezes, adormecia e despertava com os primeiros raios da manhã.
- Oh, Lago das Carpas, como podes separar tal inocente e bonito amor com tuas águas congeladas?
Durante o dia ela escrevia poemas, frases e pensamentos, todos baseados em Lisa, colocava-os em barquinhos de papel e soltava-os no lago. Nunca soube se eles chegaram, não podia-se ter um diálogo muito complexo por luzes.
Mas, com o tempo, ambas acabaram criando um código que facilitava a conversa. Escreviam palavra por palavra, desenhavam, riam e choravam.. como quando, depois de muito esforço, Gretzel entendeu que Lisa estava escrevendo: ''Eu te amo''.
Lisa destinava suas tardes para trabalhos acadêmicos, seus pais desejavam que fosse para a capital estudar veterinária e como era desejo de sua desfalecida mãe, ela aceitava sem meias palavras.
As duas criaram uma verdadeira ponte imaginária que ligava as almas e os corações durante a noite, e, de dia, durante a colheita, Gretzel só pensava em Lisa, e esta, via a luz da lanterna de Gretzel por detrás das letras dos livros.
Nunca se viram, viajar por aquela região de águas poderia ser uma aventura sem volta. Na distância só podiam enxergar uma silhueta pequena e magra. Lisa sempre com vestidos coloridos, os cabelos negros e compridos. Gretzel com alguma camisa branca, herança de seu irmão, uma bermuda marrom e cabelos louros desarrumados.
Os dias sem Lisa começaram a ser muitos, e muito exaustivos.
Certo dia, Gretzel chegou em casa depois de uma tarde desgastante de colheita sob o sol. Seu irmão Rupert, um homem louro e forte, do tamanho de dois homens, chorava abraçado a um senhor com os mesmos cabelos, porém mais ralos. As lágrimas caíam desesperadamente de seu rosto, as quais foram acompanhadas pelas de Gretzel, ao entender que perdera o pai.
Naquela noite Lisa esperou, esperou paciente e insistentemente, esperou até que a maré alcançasse o cais. E ela esperou.. até cair de sono no parepeito de sua janela de mármore branco.
A recuperação de Gretzel foi breve, ela se dedicou totalmente ao trabalho. De manhã ordenhava as vacas do pasto, `a tarde ia para a colheita e antes de voltar para casa vigiava as ovelhas.
O desejo de estar ao lado de Lisa, um encontro de uma vez por todas, sufocava a garganta como veneno. Agora as noites eram banhadas por luzes ágeis com a prática das conversas de dois anos pelo lago.
Passou-se mais um mês, Gretzel sentada em seu lenço, coberta por uma névoa, a umidade molhando seus lábios como um beijo de sua amada. Brilhou fraca uma luz à outra margem. Os olhos não queriam acreditar em tal mensagem. Dizia que Lisa fora aprovada para estudar na capital e partiria em duas semanas.
Foi somente isso, não veio mais nada.. nem palavras de afeto ou de consolo, ou raiva e alegria.. e a maré ainda nem chegara ao cais.
Naquela noite Gretzel correu pelos campos de edelweiss, correu até perder o fôlego que já não tinha, e nas montanhas ela se escondeu por uma semana.
Passava os dias a observar o céu e as águas, durante a noite, chorava. Dormia afogada em suas lágrimas e pensamentos em Lisa.
Passaram-se os dias e ela apareceu com a magreza à flor da pele, a cor pálida, roupas sujas.
O semblante mais triste que as montanhas austríacas já haviam visto, mas com os olhos determinados.
Era noite de lua cheia, rumou para o teu canto ao telhado e piscou com a lanterna. Imediatamente vários flashes, frases angustiadas, luzes deliciaram teus olhos. Lisa pensara que estivesse morta, chorara por dias, mas agora, como no primeiro dia em que conversaram, riam e se amavam como nunca.
Os dias na floresta renderam planos audaciosos a Gretzel, que resolveu por em prática o sonho de ir até sua amada. Enquanto voltava das montanhas ela passara por um vilarejo aonde um senhor de olhos esverdeados chamou-lhe a atenção. Ele estava sentado à beira do lago cantarolando algo semelhante a Distillers da antiga geração. Ao seu lado flutuava um pequeno barco, provavelmente usado no passado para a pesca. O velhote viu a expressão entregue de Gretzel e perguntou-lhe se ainda lhe restavam sonhos. Disse-lhe, então, que fosse atrás da luz que a guiava e ofereceu seu barco contanto que devolvesse na noite posterior quando voltasse com sua amada para a margem.
Lisa engoliu as frases cheias de novidades como se fossem doces, deliciou-se com elas e com a idéia de ter a bela e querida Gretzel em seus braços. A tal noite esperada seria na próxima lua límpida.
O dia arrastou-se. Nem a brisa aliviadora do vento mostrou as caras. O barco já estava na margem, ancorado no quintal perto dos equipamentos enferrujados da lavoura. Quando o sol começou a ameaçar seu descanso, Gretzel voltou para casa. Arrumou-se como nunca antes fizera.
Foi uma princesa que olhou para o barco, tremendo com a correnteza, pronto para a viagem da realeza para seu reino. Com um sinal de lanterna ela anunciou sua partida e prendeu o lápis da escuridão na proa do pequeno barco, para Lisa saber qual era sua distância.
Gretzel dessamarrou o nó em terra e saltou para dentro da embarcação. Esta vacilava por entre as águas gélidas do Lago das Carpas. Ela começou a remar na direção de sua luz, ao encontro, finalmente, de sua amada!
O ar pesava em seus pulmões com a umidade que entrava, o chão que se movia com rapidez era negro. De vez em quando dava para enxergar o vulto de algum peixe ou animal marinho qualquer, ou sentir as pedras do fundo batendo contra os remos. Gretzel não conseguia tirar os olhos da outra margem, seu maior desejo, ela teria a mulher que mais amava, a razão de sua vida, para sempre!
Sua sede pelo destino era tão grande que ela remava desordenadamente, feito louca, para todos os lados. Os olhos fixos em Lisa.
Metade do lago já ficara para trás, ela conseguia enxergar o cais, os cavalos no pasto e as várias janelas de branco mármore.
Naquela parte da travessia, ligeriamente a oeste, o rio desembocava no mar em águas raivosas. Ela tomava o maior cuidado que podia para não se deixar levar por estas águas quase ficando em exaustão.
Só conseguia pensar em sua vida.. como seriam seus olhos?
Nesse momento de imaginação ela cometeu um descuido, uma pedra do fundo do lago bateu no lado direito do remo e, distraida, deixou que este fosse arremessado para longe do barco.
Nem a névoa pode ofuscar sua visão. Assustada, ela olhou para cima e ali, a uns dez metros de distância, avistou Lisa debruçada no parapeito da janela.
Os olhos claros arregalados, cabelos impecáveis, vestia uma blusa verde, casaco preto e brincos também verdes.
O rio parou, a névoa se dissipou. Entreolharam-se pelo que pareceu ser uma eternidade.
- Eu estou indo para ti, minha amada Lisa!
Lisa sorriu um sorriso apaixonado, mas, no mesmo instante arregalou ainda mais os olhos apontando os dedos para a direita.
Sem remos o barco rumava para a tormenta. Gretzel desipnotizou-se e, em desespero, começou a remar com os braços sem sucesso algum.
Lisa já nao enxergava sua princesa, somente a luz da lanterna se afastando, afastando, até se apagar.
- Onde foras, minha princesa? Será que és me dada por tão poucos segundos e depois tirada de mim? Será isso possível?
Ela vagou até a beira tentando avistar algo, com a esperança de encontrar Gretzel pelos campos correndo para abracá-la. Mas ela não estava lá.
Rumou até a beirada do Lago das Carpas e colocou os pés nas águas gélidas.
- Se foi esta a sensação que sentiras por desejar ver-me, que eu sinta a mesma por carregar na mente teus olhos e no coração teu amor. Nosso amor estás nestas águas e é nele que ficarás.
Lisa caminhou até as águas alcançarem sua cintura. Seus olhos refletiam a dor em busca de algum rastro de sua amada mas em seu rosto havia um sorriso por saber que pela primeira vez podia se sentir mais perto de Gretzel.
Já não sentia mais nada, somente sorria. E assim, o Lago das Carpas continuou seu percurso.
ficou fantástico! é um conto baseado na realidade de que o amor é de alma. não de visão, de escolha, de beleza, de sexo. amei. amei. amei. mesmo. fica com Deus princesa. beijos
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